''Veronika procurara os comprimidos durante quase seis meses. Achando que nunca iria consegui-los, chegara a considerar a possibilidade de cortar os pulsos.
Mesmo sabendo que ia acabar por encher o quarto de sangue, um suicídio exige que as pessoas pensem
primeiro em si mesmas, e depois nos outros.
Estava disposta a fazer todo o possível para que a sua morte não causa-se muito transtorno, mas se
cortar os pulsos fos-se a única possibilidade, então não havia outra hipótese.
Afinal de contas mesmo no final do século xx, as pessoas ainda acreditavam em fantasmas.
É claro que ela também podia atirar-se de um dos poucos prédios altos de Lubljana, mas e o
sofrimento extra que tal atitude acabaria por causar aos seus pais? Além do choque de descobrir que a filha morrera, ainda seriam obrigados a identificar um corpo desfigurado: não, esta era uma solução pior do que sangrar até morrer, pois deixaria marcas indeléveis em duas pessoas que só queriam o seu bem.
Tiros, quedas de prédio, enforcamento, nada disso combinava com sua natureza feminina. As mulheres, quando se matam, escolhem meios muito mais românticos - como cortar os pulsos, ou tomar uma dose excessiva de comprimidos para dormir.
As princesas abandonadas e as atrizes de Hollywood deram diversos exemplos a este respeito. Veronika sabia que a vida era uma questão de esperar sempre a hora certa para agir. ''
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